Hoje vou dissertar sobre um dos grandes dilemas da minha
vida: as minhas vizinhas!
Toda a gente tem daquelas vizinhas mais intrometidas, por
isso o tema até pode parecer cliché. Mas
acreditem que na minha rua elas são particularmente mais chatas. De facto, as
senhoras em questão são as
coscuvilheiras mor de Arcozelo (ou pelo menos pensava eu!).
A qualquer hora do dia, lá estão elas de cuco à janela. Sempre de maquilhagem carregada,
protótipos de palhaços, na verdade: batom vermelho garrido nos lábios, pó
branco na face, sombras escuras e sombrias, finalizando com as bochechas
torneadas a rosa. Mas não é a pintura excessiva que me chateia, são as
abordagens constantes:
-Ai a menina vai sair?
-Vai passear com o namorado.- responde outra sem esperar
sequer que me pronuncie.
E eu lá as deixo, a cochichar sobre a minha vida. Deliram
com os enredos que criam na sua imaginação. Provavelmente, elas dariam melhor
escritoras do que eu! Lá que têm criatividade, têm. Nisso, o mérito é todo
delas!
Imergido numa destas minhas lamúrias, o meu pai lembrou-me
que há sempre alguém que esteja em piores situações que nós. Há sempre alguém
com vizinhos piores e mais ávidos de emoção. Vou passar a contar-vos a história
dele então, mas prestem atenção, esta é verídica e tudo!
Na nossa vila, vive uma idosa muito conhecida por ter
tentado por término à sua vida por diversas vezes. Numa das suas desesperadas
tentativas, dirigiu-se à varanda do primeiro andar do prédio e,
desajeitadamente, começou a subir o beiral. Ora, tal evento despertou a atenção
da moradora do andar de cima. Porém, a ângulo de visão não era, com certeza, o
melhor... Assim, inteligentemente, decidiu colocar uma pilha de revistas e
jornais para que a elevasse e pudesse espreitar para baixo. Estão a imaginar o
que aconteceu? A senhora tanto espreitou, tanto se esticou que as revistas
escorregaram e... caiu! E não estou a tentar ter piada, foi mesmo assim que
tudo se passou! Como devem calcular a queda foi feia, infelizmente, a senhora
acabou por falecer.
Não desejo tão mal às minhas vizinhas, mas gostava que isto
as desincentivasse das suas longas estadias à janela!
Boa tarde!