Naquele momento em que os noivos ficam sem
palavras, deslumbrados um com o outro, um uníssono silêncio invade o salão.
Vejo-os contemplarem-se timidamente e, quando atravessam a majestosa porta,
começo a tocar. Não podia permitir que os seus apaixonados olhares
permanecessem mudos…
O som do piano liberta-se,
é o meu fiel cúmplice. Sinto o coração da noiva a bater cada vez mais rápido,
extasiado a cada harmonia que se solta. Enquanto os convidados me parecem cada
vez mais serenos, vislumbrando o casal a desfilar. Uma brisa de tranquilidade
paira então no abafado ar, tornando-o quase apetecível…
Permaneço a tocar durante
todo o jantar, incessantemente. Sinto que já ninguém me ouve, a determinada
altura, toco para surdos. E a música não ganha forma quando não tem audiência
que a escute, que a aprecie. Sinto-me vazia por dentro, mas enfim, são os
ofícios da menina dos casamentos.
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